dois poemas de jhenifer silva

abrindo caminho

na estrada recém-aberta
esta lança esgarça o caminho
os galhos o rio toda a miríade
cruza o interior da folhagem densa
onde apenas bichos passaram durante
anos. algum tempo depois encontra o teu peito
fechado como o matagal. a geleira imediatamente
se derrete e peixes engaiolados saltam para as margens do rio
você alonga as sobrancelhas abre um assovio fino
_ demorou para os peixes mergulharem de novo
o mato volta a crescer, cobrindo toda ferida
foi um assovio ou alguma coisa foi dita?
despreocupada com os pés na grama
rio dos homens só mais uma vez
enquanto treme o meu corpo
inflado por aquele assovio
na navalha do silêncio
ouço trovões grunhi
dos ilumina-se céu
aprendo a falar

 

o voo

primeiro arrancaram-lhe os chifres
e lançaram-nos como galhos secos
sobre as costas da ribanceira
depois os olhos como se arranca
a folha verde na profunda mocidade
um líquido espesso e esbranquiçado
lembra-se disso?
algum tempo depois, lançaram-na viva
ao rio, vibrando a morte com idolatria
e afogando-se tal como abelhas se afogam
cresceu como vento, tapou o sol

pássaros migram


Jhenifer Silva é pesquisadora, professora e crítica literária em formação. Tem poemas publicados em revistas digitais e impressas como Garupa, Mallarmargens e Subversa. Inédita em livro, os poemas aqui presentes compõem no olho da mata virgem, projeto de livro em construção.