dois poemas de marina rima

Assim

começa com um novelo
pequenos pedaços de outros novelos
de outras linhas outras cores
um montón de linhas mescladas

começa no grito
e gesto. começa com
desejo e uma navalha. começa
na porta da casa, como o céu
que sai do quintal  dá  volta na quina
encontra o asfalto.

Meus mais sinceros cumprimentos,

o editor de uma revista da internet
não é apenas um editor de uma revista da internet
ele comenta o seu poema, em duas ou três palavras
justapostas
o que faz dele: editor de poesia
de uma revista da internet
e ele diz seu poema tem um brilho
(“por de trás”)
uma “construção consciente”
muito interessante
nele há
“um certo potencial irrealizado”
uma “retração que dilui seu impacto”
o editor é quase um analista
ele me vê transparente
já que todo brilho em mim é oculto
a potência nasceu toda torta
há algo de infrutífero
há algo de putrefato
todos meus versos são vãos
o poema não colide,
pois não almeja alcançar quase nada
na corda-bamba do corte
na afasia da
prova da inércia
paralisia
asfixia
o poema é o desejo irrealizado
ele não vai adiante
só dá voltas sobre si
retrai-se adentro
se autodevora


Marina Rima é poeta e pesquisadora. Publicou Vênus partida ao meio (Patuá, 2017), Estaca zero & outros desvios de percurso (Urutau, 2018) e Toda janela é algum tipo de saída (Penalux, 2019).