“Luto”, conto de Mahana Cassiavillani

1.

Pedro gostava de imaginar. Herdara essa característica da mãe. Imaginava que o pai fosse o dono da marcenaria onde trabalhava. Sonhava que a mãe não era louca.

Cresceu contando histórias.

Quando começou a namorar, encontrou a pessoa perfeita para acreditar em suas imaginações. Ela nunca tinha comido lasanha, muito menos ido ao cinema. Ele a ajudava mostrando-lhe o mundo. Seu mundo. Muito mais colorido do que a cinza realidade.

Casaram-se depois de seis anos de histórias. No começo, eram felizes. Mas ela era terra. Fincada no chão. Cansava-se dos dizeres que custavam dinheiro, dificultavam a vida. Impediam a compra da casa.

As filhas nasceram e Pedro achou novas formas de inventar. Elas adoravam. Um pai mágico. Inteligente, cheio de coisas incríveis para contar.

Mas elas também eram terra e decidiram partir ficando no mesmo lugar.

Três contra um.

Pedro tentava e tentava, mas não conseguia mais viver suas histórias, morrendo de falta de imaginações.

Um dia ele não mais aguentou, encontrou uma pessoa que também era céu. Que vivia de histórias ainda mais que ele. Contavam-se causos durante toda a noite, como duas crianças vendo estrelas.

E ele se foi.

2.

Tudo muda.

As duas mulheres juntam-se a se ajudar, unidas como irmãs de vidas antigas.

Filhas esquecem as mágoas e reaproximam-se com toda a força de uma criança.

Resta apenas o amor.

3.

Pai,

A morte é o silêncio.

4.

E ele se foi.


Mahana Cassiavillani é autora do livro de contos Deus é bom e o Diabo também (Dobradura Editorial, 2017).