quatro poemas de pedro torreão

Corpo grão

Saciar no corpo a textura que impele:
denota trigo
conota moinho.
gira.
constrói e seduz
mão que enche a boca
esfarela língua
enfarinha dedos
preenche unhas
e só.
monta vãos
                        entre pernas

preenche sulcos
das mãos
                       que fecham
 e vincos que dobram
no meio
                      e nas pontas

criando crosta
que reina na sola
                          e nos peitos
dos meus pés.
preto como levedura
forte como elástico
rasga massa
e bate
                  como os pés no chão.

 

Mitos no café

Céu que cai

do teu passado

derruba teto

caindo gesso

em meu

café.

 

Banhos

Fervuras

              do que nunca sei

:

recolhendo panelas ao chão

ressinto o que passa

em um rastro na saída.

 

Orixás

Quando vês que tá calmo

procuras no ato

subverter.

Na porta e no braço

te vejo e acato:

Exú e paixão.

 


Pedro Torreão é cientista social, mestre em sociologia e poeta. Nascido em Recife, reside em São Paulo desde 2017 onde escreveu Pão Só, seu primeiro livro, que recebeu menção honrosa no Prêmio Maraã de Poesia 2019 e está em pré-venda pela Editora Urutau. Tem poemas publicados pela Quatrocincoum, Aboio, Ruído Manifesto, entre outros.