Dois poemas de Graciana Méndez

Tietê

A topografia
define a paisagem
y el trazado.
Mi hermano dice
que desde el avión
San Pablo es curva.
São Paulo é curva.
El Río Tietê
era una serpiente,
un zigzag acuático,
hasta que lo domesticaron,
lo enderezaron
en la ciudad.
Mesmo assim,
quando você sai de São Paulo
el río vuelve
a su cauce
natural.
Y curva va,
curva viene,
se puede llegar al Delta
y al Paraná.

Falha

Do nada
o cheiro volta.
Uma caixa de sapatos
adaptada,
com um retângulo
de tapete verde
fazendo de falsa grama,
falsa casa.

A memória falha
mas ainda cheiro o medo
de um cachorro recém-nascido
chegando em uma casa com
crianças.


Graciana Méndez nasceu em Buenos Aires em 1976, onde se formou em letras, trabalhou como professora de espanhol para estrangeiros e publicou La Tormenta de Santa Rosa (Univ. Nacional de La Plata, 2006). Morou 5 anos no México onde foi professora voluntária para refugiados e migrantes. Veio para São Paulo em 2012 e fez o Clipe Poesia em 2018. Atualmente faz o Programa Formativo para Tradutores Literários. Os poemas publicados nesta edição fazem parte de seu livro inédito Frutos Estranhos.