Corpo grão
Saciar no corpo a textura que impele:
denota trigo
conota moinho.
gira.
constrói e seduz
mão que enche a boca
esfarela língua
enfarinha dedos
preenche unhas
e só.
monta vãos
entre pernas
preenche sulcos
das mãos
que fecham
e vincos que dobram
no meio
e nas pontas
criando crosta
que reina na sola
e nos peitos
dos meus pés.
preto como levedura
forte como elástico
rasga massa
e bate
como os pés no chão.
Mitos no café
Céu que cai
do teu passado
derruba teto
caindo gesso
em meu
café.
Banhos
Fervuras
do que nunca sei
:
recolhendo panelas ao chão
ressinto o que passa
em um rastro na saída.
Orixás
Quando vês que tá calmo
procuras no ato
subverter.
Na porta e no braço
te vejo e acato:
Exú e paixão.
Pedro Torreão é cientista social, mestre em sociologia e poeta. Nascido em Recife, reside em São Paulo desde 2017 onde escreveu Pão Só, seu primeiro livro, que recebeu menção honrosa no Prêmio Maraã de Poesia 2019 e está em pré-venda pela Editora Urutau. Tem poemas publicados pela Quatrocincoum, Aboio, Ruído Manifesto, entre outros.