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Falo do suco de abacaxi-com-erva-cidreira que tomei
naquela manhã
de quinta-feira
falo do verde-cor-de-parede-de-casa-de-praia
que me matou
a sede
me encheu a boca de espuma
do mar
falo de sorver o
sumo
suculento que
desceu redondo pela minha garganta esôfago estômago vísceras carne
coração
Falo de tudo isso
e só
[sem título]
um
corpo
só meu
corpo
e o
seu
meu corpo mais antigo que as
Pirâmides de Gizé hoje habita
uma redoma de vidro e gelo
com princesas bonecos de
neve e outros seres que não
existem
presa aqui sou reduzida ao desejo
incandescente de ter as minhas pernas
cravadas nas suas no meio da noite te
acordar com sussurros na orelha e sair
deixando não mais que uma marca
vermelha
penso em você pensando
é amor? não, meu bem
mera ferramenta de
reprodução você acabou
de chegar já eu vivo uma
vida inteira em um mês
no fim o princípio
fogo e trevas a
janela deixada
aberta o cárcere se
espatifa eu flutuo
sem rumo e
encontro em vez do
calor do seu corpo
as chamas do fogão

Gabriela Barretto é atriz, performer, garçonete e escritora.